Evento reuniu mais de 300 pessoas em Gravatal, segunda-feira (3) à
noite, em debate com especialistas, lideranças políticas, profissionais e
comunidade
A necessidade de ampliar os investimentos para levar
saneamento básico a 100 milhões de brasileiros que sofrem com o problema
requer maior vontade política dos governantes e um projeto que inclua
recursos privados e públicos, em um trabalho conjunto e não excludente.
Este foi o consenso entre os debatedores do evento Futuro Azul, que
reuniu mais de 300 pessoas no Hotel Internacional de Gravatal (SC),
segunda-feira (3) à noite.
Organizado pelo Grupo Atlantis para
marcar o Dia mundial do Meio Ambiente - neste 5 de junho -, esta segunda
edição do Futuro Azul teve como tema “Saneamento básico: saúde e
progresso ao alcance de todos”, com os painelistas Édison Carlos,
presidente do Instituto Trata Brasil, deputado federal Carlos Chiodini
(MDB-SC) - integrante da Comissão Mista da Medida Provisória do
Saneamento - e Marcos Probst, advogado especialista em saneamento.
Participaram prefeitos de diversas cidades - entre eles o prefeito de
Gravatal, Edvaldo Bez de Oliveira, e o presidente da Federação
Catarinense dos Municípios (Fecam), Joares Ponticelli, prefeito de
Tubarão -, parlamentares, profissionais, estudantes e a comunidade da
região.
Santa Catarina: situação preocupante
Em
análise sobre Santa Catarina, o Instituto Trata Brasil mostra que 11,7%
da população ainda não recebe água tratada, 77% não tem acesso à rede
de coleta de esgotos, apenas 24,7% do esgoto gerado é tratado antes do
descarte - o restante volta ao meio ambiente sem qualquer tratamento - e
36,6% da água produzida é perdida nas redes de distribuição. Em 2017, o
estado registrou mais de 7,7 mil internações por doenças de veiculação
hídrica, resultando num custo de R$ 3 milhões no mesmo ano. As dez
maiores cidades de Santa Catarina gastaram juntas R$ 647 mil com 946
internações por doenças de veiculação hídrica em 2017.
“Sabemos
que a mortalidade infantil cai quando se tem saneamento. Por outro lado,
a falta dele leva a problemas de saúde, particularmente nas crianças,
prejudicando ainda o rendimento escolar. Não conseguiremos resolver
doenças vindas do mosquito sem saneamento ”, advertiu Édison Carlos. “É
difícil entender como um estado avançado como Santa Catarina tem índices
tão ruins, ainda mais porque, com isso, as cidades perdem de
desenvolver o turismo, a atividade que mais gera renda no mundo”,
lembrou. O presidente do Instituto Trata Brasil mostrou que para cada R$
400 bilhões que se investir em saneamento, o Brasil ganhará R$ 1
trilhão em saúde, melhores condições de vida e renda.
“Precisamos
unir forças. Não há um único modelo certo. São vários, envolvendo
empresas públicas e privadas, inclusive em parceria. O que não dá é para
deixar como está. As pessoas não merecem. Se continuar no ritmo atual
de investimento, Santa Catarina levará 60 anos pra resolver o problema”,
alertou. O Brasil investe cerca de R$ 11 bilhões ao ano, quando
deveria estar investindo perto de R$ 20 bilhões. Santa Catarina
investiu, entre 2015 e 2017, cerca de R$ 1,5 bilhão.
O deputado
federal Carlos Chiodini lamentou que com a não votação da MP do
Saneamento, a medida provisória tenha perdido a validade exatamente na
mesma noite em que se realizava o Futuro Azul. “Precisamos encontrar com
urgência um modelo que garanta o aporte de mais recursos. Sem aquilo
que previa a MP do Saneamento, estamos mantendo a ineficiência de
algumas companhias. Precisamos lembrar, por exemplo, que um dos
pré-requisitos de empresas multinacionais para virem investir no Brasil é
justamente o saneamento. Estamos sem evoluir há décadas. Portanto, é
essencial uma mudança na legislação brasileira, que precisa facilitar a
criação de parcerias público-privadas e o aporte de recursos financeiros
para a universalização dos serviços”, defendeu.
Para haver o
investimento necessário, o advogado Marcos Probst defendeu, além da
união do público com o privado, uma desoneração do setor para sobrar
mais recursos. No plano jurídico, apontou para a importância de
mecanismos para melhorar a qualidade dos planos municipais e para
aumentar o número de contratos das empresas com os municípios,
garantindo maior segurança jurídica. "Não existe modelo ideal. As coisas
precisam funcionar. A Lei 11.445, de 2007, reorganizou a casa, com um
ambiente regulado. Mas precisamos avançar, especialmente na questão de
abrir espaço para mais investimento. E é isso o que uma nova legislação
precisa fazer, com planejamento e fiscalização".
Para o
presidente do Grupo Atlantis, Anderson Botega, o objetivo do evento foi
atingido, "ao ampliar o debate sobre a necessidade de uma legislação com
mais isonomia entre público e privado". Ele lembrou também que o Futuro
Azul é um projeto mais amplo, com ações socioambientais, "exatamente
pela visão que a empresa tem de trabalhar pela qualidade de vida das
pessoas”. Botega aproveitou para anunciar a expansão dos trabalhos do
Grupo Atlantis para São Paulo e Paraná, que se somam aos estados de
Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, onde a empresa atende
27 municípios e mais de 1 milhão de usuários.
Acesse o portal de indicadores do Instituto Trata Brasil: www.saneamentobrasil.org.br